Professora Silvia.
O link abaixo refere-se ao áudio do conto "O menino no sapatinho" de Mia Couto com comentários do autor:
Nesta entrevista, Ondjaki fala sobre a infância, a influência das histórias ouvidas e da literatura impressa, e o país onde mora atualmente, o Brasil. Assista e aprecie o ritmo e a sonoridade do português falado em Angola.
https://www.youtube.com/watch?v=0cTQ52tleN8
Africa: Diversidade
http://www.youtube.com/watch?v=IsZiVa1gylM
CONTO DE ONJAKI
http://www.kazukuta.com/ondjaki/ynari.html
Vídeo: "Como vivem as crianças africanas"
https://www.youtube.com/watch?v=C-ldNvU9beY
CONTO DE ONJAKI
YNARI:
A MENINA DAS CINCO TRANÇAS
Era
uma vez uma menina
que tinha cinco tranças lindas e se chamava Ynari. Ela gostava muito de passear
perto da sua aldeia, ver o campo, ouvir os passarinhos, e sentar-se junto à
margem do rio.
Certa tarde, já o Sol se punha, Ynari ouviu um
barulho. Não eram os peixes a saltar na água, não era o cágado que às vezes lhe
fazia companhia, nem era um passarinho verde. Do capim alto saiu um homem muito
pequenino com um sorriso muito grande. E embora ele não fosse do tamanho dos
homens da aldeia de Ynari, ela não se assustou.
O homem muito pequenino andava devagarinho e
devagarinho se aproximou.
– Olá! – cumprimentou.
– Olá – respondeu Ynari, receando que estivesse a
falar alto de mais para o tamanho do ouvido
do homem muito pequenino. – Desculpa, mas não sei
o teu nome...
– Eu também não sei o meu nome... – desculpou-se o
homem muito pequenino. – Mas chamam-me homem pequenino.
– Ah, está bem... – sorriu Ynari, enquanto se
deitava na relva para ficar mais perto dele.
– Eu tenho um nome só, quer dizer, uma só palavra:
chamo-me Ynari.
– Ynari é um nome muito bonito – o homem pequenino
sentou-se, ficando, assim, ainda mais pequeno.
– Posso fazer uma pergunta, homem muito pequenino?
– Podes fazer muitas perguntas.
– De onde vens?
– Venho da minha aldeia, que fica mais para cima,
junto à nascente do rio.
– E lá, na tua aldeia, são todos pequeninos?
– Sim, somos todos mais pequenos que vocês, quer
dizer, depende daquilo que entendemos por «pequeno». Não achas?
– Nunca tinha pensado nisso. Sempre pensei que uma
coisa menor fosse uma coisa pequena...
– Pode não ser assim... Conheces a palavra
«coração»?
– Conheço! – sorriu Ynari. – E não é só uma
palavra, é isto que bate dentro de nós – e mostrou no seu peito onde o coração
batia.
– Claro, e... O coração é pequeno para ti?
– É... e não é! Cabe tanta coisa lá dentro, o
amor, os nossos amigos, a nossa família...
– Vês? – disse o homem mais pequeno que ela. – Às
vezes uma coisa pequenina pode ser tão grande...
Os dois ficaram por um tempo calados, olhando o
Sol que, do outro lado do rio, quase já tinha desaparecido. Assim, tão
amarelada que estava a tarde, parecia que o Sol se ia afogar no rio e que os
peixes, saltando, se queimavam nos seus raios avermelhados.
Estiveram algum tempo assim, até que Ynari começou
a brincar com as suas tranças: eram cinco tranças lindas, negras, compridas.
A menina tinha olhos enormes que brilhavam muito e
lábios carnudos muito bonitos.
– E tu, de onde vens? – perguntou o homem mais
pequeno que Ynari.
– Eu venho daquela aldeia ali – apontou a menina
na direcção das cubatas. – Vivo ali com a minha mãe, o meu pai, a minha avó e o
meu povo.
– E quem te faz as tranças?
– Ninguém me faz estas tranças, porque elas não se
desfazem... A minha avó diz que eu já nasci com as tranças e que um dia vou
saber porquê. Eu gosto muito de brincar com as minhas tranças.
Levantaram-se, os dois, e caminharam junto ao rio.
Agora o homem mais pequenino que Ynari já não lhe parecia tão pequenino, nem era
estranho caminhar ao seu lado, embora ele fosse muito mais baixo do que a
menina. De vez em quando, Ynari afastava os capins mais altos para que o homem
mais pequeno pudesse caminhar livremente.
– Não tens medo dos bichos? – ela perguntou.
– Não. Os bichos não fazem mal nenhum... E mesmo a
palavra «medo» pode ser vivida de várias maneiras.
– Mas quando estás perto de uma palanca negra
gigante, tens medo, ou não?
– Sabes, Ynari, nunca estive muito perto de uma
palanca negra gigante embora já a tenha visto muitas vezes. E tu?
– Eu só a vejo de longe.
– A palanca negra gigante correu até perto de ti,
fez-te mal?
– Não, nunca.
– Vês... Não precisas de usar a palavra «medo».
– Também acho... – disse Ynari, dando a mão ao
homem simplesmente pequeno.
http://www.kazukuta.com/ondjaki/ynari.html
Vídeo: "Como vivem as crianças africanas"
https://www.youtube.com/watch?v=C-ldNvU9beY
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